sexta-feira, 22 de junho de 2012

A bicicleta pode ser uma excelente alternativa


André Fernando Sturmer 1
Enio Luiz Spaniol2
Mauro Luis Franzen3
Nayara Flach4
Ricardo Luiz Spaniol5

Quem percorre o interior de Itapiranga, São João do Oeste ou Tunápolis percebe que a maioria das famílias atualmente possui um carro. Isto quando não dois, ou até mais. E não raro, trata-se de carros bons, de alto valor, ou seja, carros de remessas fabricadas com as mais recentes tecnologias: injeção eletrônica, câmbio automático, freios ABS, computador a bordo etc. Este fenômeno ocorre com mais frequência nas três sedes destes municípios, onde pessoas de um poder aquisitivo privilegiado, compram super carrões, tração 4 x 4, com mais de 150, 180 ou até mais de 200 cavalos de potência. Às vezes, a gente se pergunta, para que servem estas máquinas luxuosas e potentes, especialmente nas estradas, muitas vezes caóticas que temos. A resposta remete muito mais ao status do que o conforto e segurança que isto proporciona. Estes carros conferem status aos seus proprietários e/ou condutores. Só para se ter uma idéia, os três municípios citados tem juntos uma população de 26.062 habitantes Itapiranga – 15.238 (site P M Itapiranga); São João do Oeste – 6.033; Tunápolis – 4.791 (P M Tunápolis), enquanto que a frota de veículos destes municípios é de Itapiranga: 3014 automóveis, 197 caminhões, 74 tratores, 233 camionetas, 16 micro-ônibus, 1750 motocicletas, 284 motonetas, 41 ônibus. Tunápolis: 874 automóveis, 65 caminhões, 11 tratores, 60 camionetas, 5 micro-ônibus, 564 motocicletas, 32 motonetas, 22 ônibus. São João do Oeste, 1250 automóveis, 124 caminhões, 37 tratores, 88 camionetes, 7 micro-ônibus, 854 motocicletas, 68 motonetas, 6 ônibus.   
A pergunta que não quer calar: até quando teremos condições de transitar em meio a tantos veículos? Ou, até quando teremos espaço suficiente para estacionar nossos veículos na Rua do Comércio, na Rua Santa Cruz ou na Rua Mário Frantz? Ou ainda, até quando nosso planeta tem condições de sustentar a queima das energias finitas para manter estas máquinas freneticamente em movimento? Mais ainda, até quando a atmosfera, as águas e os nossos tímpanos absorverão os altos níveis de poluição gerados em consequência? Ou ainda mais, até quando as pessoas irão se manter acomodadas no sedentarismo, o que poderá provocar problemas físicos múltiplos?
Não pretendemos ser apocalípticos e nem deixar de reconhecer os avanços da tecnologia e da ciência acumulados, para o bem da humanidade, especialmente no último século: resultados práticos com muito menos esforço, prolongamento da vida por procedimentos medicinais, adequação do tempo, conhecimentos, etc. Além do mais, para as questões acima colocadas há soluções alternativas.
 A bicicleta, por exemplo, já tem uma longa trajetória. ... Em Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis, no passado recente, a bicicleta era um veículo luxuoso, que servia como meio de transporte e conferia um certo status. Nos últimos anos, com a disseminação em massa dos veículos auto-motores, a bicicleta foi relegada. Hoje ela está voltando como meio de transporte alternativo, por ocupar menos espaço e por não poluir e como resposta ao sedentarismo em que estamos depositados, portanto, é uma ferramenta que pode promover saúde física, saúde psíquica e também saúde para nossos cidades e nossas vias públicas.
Fizemos uma pequena experiência para testar a capacidade humana e o potencial da bicicleta. No dia 27 de dezembro passado, em 5 bicicletas, realizamos uma viagem de Cristo Rei, São João do Oeste até a cidade de Itapiranga, via SC 472. As bicicletas transitavam normalmente, por medida de segurança, no acostamento, em função do intenso tráfego de caminhões pesados e outros veículos por esta rodovia. Com toda tranquilidade, sem acelerar a viagem, descansando nas subidas, recuperação das energias com a devida hidratação física, o percurso foi feito em 2 horas e 30 minutos: saída de Cristo Rei as 18:15 horas e chegada em Itapiranga as 20:45 horas.
Não há nada de excepcional no feito. É apenas uma pequena ação de férias, que proporciona uma enorme satisfação: 1) você precisa saber dos limites e dos riscos da bicicleta em via de intenso tráfego; 2) você precisa agir em equipe, planejando a ação, promovendo os controles e os apoios mútuos; 3) você sabe que está testando, em meio a uma vida louca e corrida em busca de lucros, um meio alternativo, que promove a sensação de leveza, de liberdade e de poder.
Este mesmo grupo em ano anterior já realizou uma experiência com caráter idêntico. Percorremos a pé a estrada vicinal entre Cristo Rei e Medianeira, recolhendo e dando um destino devido a todos os detritos poluentes: sacos plásticos, garrafas plásticas, cacos de vidro, pedaços de metal, tampinhas, pedaços de pneus, borrachas, pilhas, pedaços de eletrodomésticos, pedaços de lona, roupas, papelões, pregos, entulho de madeira, etc. É impressionante a quantidade de resíduos que se encontram jogados nas ruas, estradas e valetas, obstruindo bueiros e a livre circulação das águas, poluindo a natureza, trasnformando-se num risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente. Este trabalho é fácil, simples e promove uma sensação de alegria, liberdade e de alívio por se contribuir com pequenas ações para a preservação da natureza e o bem-estar humano.
Andar de bicicleta pode ser uma opção que dá uma outra visão de natureza, de espaço e de liberdade. Os motoristas que percorrem seguidamente a rodovia entre Cristo Rei e Itapiranga conhecem os detalhes do asfalto. Mas não conhecem outros detalhes e minúcias que só são possíveis perceber andando pela mesma rodovia de bicicleta; as curvas, os aclives e declives, as distâncias entre retas, a arborização, as rochas, o barro, os transeuntes, as casas e os animais existentes ao lado do asfalto, os filetes de água, os reflexos dos raios solares, o ronco, a ventania e o odor de óleo diesel dos caminhões, os gritos desesperados dos suínos e aves sendo transportados em carrocerias em sua derradeira viagem em vida. A sensação do pedestre ao longo da rodovia novamente é diferente do ciclista. Certo é que, quem percorreu este trajeto de bicicleta alguma vez, vê e sente esta rodovia com outros olhos: a SC-472 entre Cristo Rei e Itapiranga, nunca mais será a mesma depois desta experiência. Sabemos que explicar esta sensação em palavras é uma missão quase impossível. Só percorrendo a rodovia de bicicleta para se ter esta percepção.
Sabe-se que nos três municípios e outros da região da oeste de Santa Catarina, vem sendo adotadas outras posturas saudáveis, não poluentes e de senso humanitário. Diariamente se vê pessoas fazendo ginástica e caminhando ao longo da rodovia. Há grupos que caminham por estradas de roça e lavouras e campo aberto em comunidades do interior. Há pessoas que limpam espaços públicos e há pessoas que praticam o ciclismo como esporte ou como aventura, participando de campeonatos ou percorrendo estados brasileiros e países da América do Sul de bicicleta. Isto tudo é muito bom.
Por último, o uso da bicicleta, num terreno montanhoso como é o desta região, nem sempre é fácil. Ninguém é doido para subir, por exemplo, pela Rua São José em Itapiranga da Cooperativa de Crédito até o Hospital. Mas andar da entrada da cidade até a Marfrig (Seara) e vice-versa, é perfeitamente possível, assim como percorrer a cidade de São João do Oeste do início da Rua Medianeira até o acesso asfáltico, ligando a comunidade de Beato Roque e vice-versa, ou atravessar a cidade de Tunápolis da Prefeitura Municipal, percorrendo as ruas principais, passando ao lado do campo do Grêmio, até o Hospital e vice-versa, é plenamente viável. E assim também temos muitas retas, transitáveis de bicicleta, em todas as comunidades dos três municípios.
Assim, concluímos com dois apelos: 1) optar por ações ecologicamente corretas como o uso da bicicleta como meio de transporte: não polui, é saudável, é barato e confere aos seus usuários, além da sensação de liberdade, o status de homem contemporâneo, que despertou para a realidade dos novos tempos; 2) prefeitos e vereadores, em ano eleitoral, coloquem em suas pautas de agenda política a construção de ciclovias para incentivar o uso das bicicletas oferecendo segurança aos ciclistas.
1 – Estudante de cinema
2 – Doutor em Sociologia política
                    3 – Pós-graduado em Administração de empresas
4- Estudante do Ensino Médio
5 – Mestrando em Biologia





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